domingo, 17 de agosto de 2014

Mar da Noite



Era um fim de tarde. Os últimos raios de sol desvaneciam no horizonte. Os últimos suspiros do calor que me acalentavam iam se tornando cada vez mais escassos. Até que a lua finalmente surgiu no céu, tímida, escondida pelas nuvens, quase apagada.  O corpo passa então a sentir o frio de um árduo inverno que invade a pele, a alma.

O vento bate forte no rosto, congelando meus sentidos. Sigo uma trilha na direção do mar. Quanto mais me aproximo, a escuridão da noite vai ocupando por completo minha visão. O som do mar, forte, grave, escuro, contínuo é o único que chega aos meus ouvidos.

O forte vento a todo custo tenta me empurrar de volta, mas sem sucesso. Prossigo na trilha até alcançar o mar. Deixo que a água fria toque meus pés descalços. Passo a andar ali, margeando as ondas, em busca do nada, ou de algo que não faço a menor idéia do que seja.

Passam segundos, minutos, horas… O frio cada vez mais forte dificulta os meus passos. Meus pés quase congelados lutam por mais um passo. Mas eu sei que não posso parar. 

Passam mais horas, e horas. A madrugada afasta por completo os últimos vestígios de vida de todas as direções.

No meio do nada, com o corpo semi congelado, sinto um doce perfume, suave, distante. Aquele perfume desvia minha mente do mar, e do frio. Meu coração passa a bater mais forte e logo o meu corpo fica quente como se um novo sol tivesse surgido na minha frente.

Passo então a procurar desesperadamente pela origem daquela essência que me acordou de volta para o meu mundo surreal, onde nele a existência torna-se autêntica. Passo então a andar, andar, e correr em direção ao nada, procurando, e procurando….

No meio da areia, um pouco distante vejo uma silhueta. Vestida toda de preto, com um lindo chapéu cobrindo seu rosto. Ela parada, de longe, percebe a minha presença. Continuo me aproximando, mas ela a princípio demonstra um certo medo. Às vezes parece afastar-se, mas para, anda, para. À distância, nossas energias se cruzam, e se encaixam. Ela sente minha energia e para. Fica travada sem conseguir mais mover-se. Vou me aproximando lentamente, procurando por seus olhos,  escondidos por trás daquele lindo chapéu.

Quanto mais me aproximo parece que nossas energias se fortalecem, e se entrelaçam. E cada vez fica mais difícil fugir. Ela, parada, olha para a areia, entregue, aguardando pela minha chegada, sem forças para lutar, ainda com medo, com as mãos geladas, mas já pronta para ser completamente minha.

Finalmente chego a um passo de tocá-la. Ela levanta a cabeça, olha na minha direção procurando pelos meus olhos, no meio da escuridão. Chego ao lado dela, suavemente, pego suas mãos, geladas e as coloco no meu peito, quente, forte, pulsante. Levanto devagar seu chapéu para ver seus lindos olhos que em um primeiro momento fogem sem saber em que direção focar, mas acabam por fixar-se nos meus. Ao tocá-la sinto seu coração bater forte, seu corpo quente, com um pouco de medo mas feliz por estar totalmente nas minhas mãos. Naquele instante ela percebeu que o seu objetivo de vida era ser minha para sempre.




2 comentários:

  1. Mar da noite:
    Adorei, e sinceramente, até viajei, me emocinei.
    Inclusive, não achei nada de irreal, pelo contrário.

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