sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Miragens


Mar da Noite (pt.1)
Em Busca da Luz (prev. - pt.7)

O sol reinava nos céus. Seus intensos raios de luz transpassavam as nuvens esparsas e atingiam o solo impiedosamente. O vento batia forte, mas a sensação de calor era extrema.

Caminhava descalço pelas areias do deserto. Estava com fome, sede, respirando com dificuldade devido ao ar abafado. Meu corpo queimava, cansado, mas continuava andando, sem destino, fugindo do marasmo do dia a dia.

O cansaço pedia que sentasse, me hidratasse. Mas não, isso pra mim não era relevante. Na verdade eu não sentia nada, apenas um vazio no meio do vácuo. Estava completamente desconectado do mundo, e de mim mesmo. Minha mente pairava, sem foco. Imagens aleatórias surgiam e desapareciam. Até havia esquecido que estava vivo, e que já estive um dia.

Aquela necessidade de caminhar, seguir em frente, já tinha deixado de ser racional. Era apenas como um instinto inconsciente de sobrevivência inerente a um animal. Por algum motivo eu tinha que prosseguir.

As horas passavam, mas o calor permanecia rasgante, queimando o meu corpo, dilacerando minha alma. As pernas não estavam mais suportando o peso do corpo. Caminhar cada vez se tornava mais árduo. De repente caí no chão. Levantei. Continuei seguindo o caminho, sem trilhas, no meio daquela imensidão de areia. Lentamente permanecia em movimento. Novamente tombei, e levantei. Até que não consegui mais ficar de pé.

Mas isso não era o suficiente para me fazer desistir. Continuei em frente, me arrastando, suado, com areia grudada em todo o corpo.
Por algum tempo ainda segui em frente, até que meus braços travaram e sentei-me de joelhos no chão.

Aquilo parecia ser o fim. Minha visão já estava turva. Olhei ao redor, e nada. Deitei e apaguei. Acordei, e adormeci algumas vezes, imerso no nada.

De repente abri os olhos, a imagem não estava nitida, mas avistei no horizonte um campo verde, florido. Tal imagem parecia ser tão real que me deu um último suspiro para levantar-me. Com alguns vestígios de consciência batendo à minha porta peguei a garrafa d'água que carregava e pinguei as últimas gotas que ainda restavam na boca.

Segui na direção do campo, com ansiedade, sem acreditar muito naquela visão. Em alguns minutos já estava lá. Toquei com os pés aquela grama verde, molhada. Um pouco mais a frente havia um lago azul. Fui até ele e mergulhei. Aquela água gelada refrescando meu corpo quente, queimado, me deu um indescritível prazer. Naquela região tudo estava diferente. O clima mais ameno, úmido, o ar mais fresco, até os raios de sol tornaram-se agradáveis.

Aquelas lindas flores, coloridas, me fizeram voltar a sonhar. A consciência acordou, todo o meu cansaço desapareceu, uma forte energia vital voltou a circular no meu corpo, na minha alma. Logo comecei a refletir sobre a vida...

Pensei que mesmo no núcleo do limbo, da monotonia, pode surgir algo diferente, vibrante, que toque nosso coração fazendo-o voltar a ter razões para bater mais forte, contanto que não deixemos de acreditar. O amor só consegue nos alcançar se estivermos com o coração aberto para recebê-lo. Acreditar e amar nos faz permanecer vivos. Entregar-se a uma vida vazia, repetitiva, dentro de uma rotina diária, sem sentimentos fortes, é desistir de viver.

Acordei.


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